quarta-feira, 15 de abril de 2015

.:: Carta a Verônica por Pam Gentil ::.

Oi, será que você pode me ouvir? Espero que possa... Eu torço, rezo, penso positivo por você e por todas nós.

Sinto uma dor imensa no peito, a dor de estar de mãos atadas nesse momento.

Tenho em mente a única coisa que posso fazer, escrever tudo o que eu gostaria de falar pessoalmente segurando suas mãos. O abraço que gostaria de dar para te acolher e proteger está suspenso no tempo, nas horas, nos dias em que você estiver ai dentro, que parecerão anos por todo o sofrimento visível nas fotos.

Algumas se orgulham de dizer não ter preconceitos, que por sermos mulheres ou negras estamos juntas, lutando por uma mesma causa. Mas qual causa? Por quais irmãs lutamos?

Essa é uma carta para você sentir que alguém aqui teve a consciência e sensibilidade de começar de algum ponto a transformação de pensamento e posicionamento.

Imagino como deve estar machucada física e psicologicamente. Tantas feridas já abertas antes, mas agora imagino que você está perdida, com medo,sozinha e pensando no que irá acontecer contigo amanhã ou daqui a pouco. Se questionando quem será essa no espelho.

Eu sei que dói. Dói tanto que fico com um nó, que me dá vergonha dos rótulos, das bandeiras, dos grupos que só se juntam para festas, eventos, para ser popular nos movimentos e militâncias, em busca de status.

A realidade é que  todas poderiam estender a mão pra você assim como eu estendo agora e minha prece nesse momento é por você, mulher que tenho certeza que já encarava a vida dia-a-dia exercendo o seu direito de viver com dignidade.

Independente do motivo pelo qual você foi detida, a culpa não é sua! Entendeu? Você não mereceu apanhar, ter o rosto desfigurado, a cabeça raspada, ter a voz silenciada!

A culpa é  de quem omite o preconceito diariamente! Olhando somente para si e esquecendo que nós somos você, somos mulheres...

Um grande beijo e um abraço que conforte sua alma.

Força!